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Mudar hoje para vencer amanhã 

 

Há tempos, um conhecido economista declarou que nada ficaria como dantes, após esta crise.

A afirmação não é nova e radica no próprio significado da palavra grega.
O certo é que a partir dos anos setenta, ocorreu uma grande evolução no nosso país que só os mais idosos e de boa memória podem avaliar. Em tudo: no aumento dos salários, na qualidade de vida, na saúde, na educação,  na afirmação de novos valores éticos e no conhecimento do mundo. A evolução aconteceu por fatores vários: políticos, sociais e económicos que não importa agora referir.

Estamos conscientes de que antes vivíamos muito pior e o regresso ao passado significa um retrocesso civilizacional.

Quando se faz comparações com o antigamente, lembramo-nos de quando se andava descalços. Sapatos só se comprava pela comunhão solene e eram sempre maiores pois o pé ía crescer, ou para o casamento. Calçava-se e vestia-se, em dias de festa, o que vinha nas sacas da América. Para o trabalho nos campos, fazia-se em casa albarcas em pele de porco e de vaca, com sola de pneus. Só os mais abastados usavam botas e sapatos feitos no sapateiro.

O fatinho preto da comunhão, tinha de ficar mais largo porque um rapaz com 10/11 anos está em crescimento. Por isso as baínhas das calças guardavam pano suficiente para acompanhar a evolução corporal. Mesmo assim, quantos miúdos não trazíam a canela descoberta...

E nada havia a fazer. Pôr a mesa, diariamente, para famílias numerosas, como as de antigamente, era um exercício de cálculo e criatividade muito complicado, pois os géneros alimentícios provinham das hortas e quintais e metade do ano a terra descansa para voltar a produzir a partir da primavera. Arrecadar no verão legumes, batatas e milho para gastar no inverno, juntamente com os produtos do porco e da vaca criado à porta de casa, era  regra de boa economia nas famílias rurais mais abastadas. Mas quando um destes produtos faltava, devido à invernia e aos ventos ciclónicos, o ano era de muitas privações.

Muitos açorianos emigraram para ter uma maior estabilidade económica e familiar.

Os que ficaram com vontade de partir – e muitos foram! - aprenderam a viver com o pouco que tinham, transformando roupa da América em vestidos feitos por modelos de revistas que não envergonhavam os melhores costureiros.

Poupou-se muito para educar os filhos, comprar casa e terras onde a família pudesse crescer e desenvolver-se.

Tudo se aproveitava e nada era lançado ao lixo. Este ou era reciclado na alimentação de animais e na produção de estrume para os campos, ou era consumido nos fogões e fornos onde se cozinhava e cozia o pão. Era quase perfeito o ciclo da reciclagem.

Havia menor poluição ambiental. Os terrenos eram quase todos destinados à agricultura e pecuária e só os mais íngremes e inacessíveis deixados ao livre crescimento da floresta autóctone.

Vivia-se numa sociedade pré-industrial, antiga, atrasada, talvez, relativamente ao desenvolvimento da Europa do pós-guerra e dos EUA cuja diferença nos era revelada por fotografias enviadas por familiares emigrados.

Hoje, de novo, a crise a bater-nos à porta.
O desvario em que se encontram a União  Europeia e a Zona-Euro, devem provocar uma reflexão profunda em todos os açorianos, em busca de alternativas aos modelos económicos mal-sucedidos.

A experiência da nossa integração europeia permite-nos concluir que os caminhos do nosso desenvolvimento não são paralelos aos dos países da Europa comunitária, nem nas produções agro-industriais, nem nas pescas, na economia em geral.  

O nosso mal foi termos percebido tarde que deveríamos ter dado um grande salto em frente para as bio-tecnologias, em virtude de dispormos de ambiente e de mar com manancial de matérias primas e fontes de pesquisa científica. Ainda vamos a tempo de apostar nestas atividades como um dos pilares do desenvolvimento económico, juntamente com o eco-turismo e as produções agro-ambientais.

Somos diferentes porque somos ilhas pequenas e é essa dimensão que condiciona a nossa identidade e a nossa idiossincrasia.

Se durante a crise criarmos novas formas de desenvolver o arquipélago dos Açores, terão valido a pena todas as mudanças económicas e comportamentais.

 

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